sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Trocas: SER ou TER?







Estou convencida que algumas etapas da vida não podem ser puladas ou ignoradas. Na infância somos forjados (formados), e nada que aconteça depois do "trauma" poderá mudar a percepção do fato e suas consequências para toda a vida.

Hoje em dia as crianças não brincam mais, (exceto com vídeo games), não têm amigos reais, (mas vários seguidores em redes sociais), não sujam as mãos com barro, não correm nas ruas, não sonham, não acreditam em mais nada, e acho isto muito triste.

É claro que algumas coisas eles não podem mais fazer por conta da violência nas ruas. Não dá mais para brincar de "mãe da mula", "queima", ou "pega-pega", pois fomos obrigados a reinventar a forma de educar nossas crianças, e para substituir algumas coisas, acabamos por confiná-los dentro de nossas casas e trocamos "valores": ter e não ser.

Recentemente, assisti à uma reportagem sobre o uso do celular, e em uma das famílias, as pessoas se comunicavam através de um mensageiro instantâneo, mesmo estando todos no mesmo cômodo da casa, e a única frase trocada entre eles era: "Recebeu ai? Já te mandei".

Okay, entendo a modernidade, e a necessidade de evoluirmos, mas precisamos ter o bom senso de medirmos as coisas e ajustar os valores.

Às vezes aqui em casa, acontece de estar-mos todos mexendo nos celulares quase que ao mesmo tempo, mas nada que nos impeça de conversar, rir e falar besteiras - e como falamos besteiras. 

Talvez aqui seja diferente, pois os meus filhos cresceram sem esta "modernidade" toda. Acreditavam em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, e não acho que isso tenha sido ruim, muito pelo contrário; eles FORAM e não TIVERAM.

Ouço às vezes as pessoas questionarem estes símbolos da infância como sendo prejudiciais ao ser humano, como se acreditar em Papai Noel, nos fizessem dementes, alienados, desligados ou sonhadores. 

Quem dera mais sonhadores... Quem dera. 

Mas qual a nossa realidade hoje? Crianças de 9 anos de idade falando de seus direitos com os pais, e esquecendo de seus deveres, dizendo que vão denunciar os pais porque querem ver TV até mais tarde e os pais, com razão, não deixam. 

Fantasioso? 

Ouvi de uma mãe que a filha de 9 anos pegou o telefone após a mãe mandá-la ir para a cama, e queria ligar para a policia. Acreditem.
Faltou Papai Noel  e sobrou "sessão da tarde".

"Adolescentes" que aos 11 anos, já encontraram o amor da vida inteira e às vezes, engravidam. Que dizem aos pais que são donas da própria vida, mas carregam uma outra.

Lamentável.

Estou de fato convencida que essas atitudes fora de hora, sem medida, e sem bom senso, forjam o nosso adulto de hoje. Mas não "forjam um bom aço".

Quem ainda manda para o conserto uma TV, um ferro de passar, uma geladeira ou um celular? Acredito que poucos, até porque não encontramos mais profissionais que realizam este tipo de trabalho. Por que não? Porque o mercado (nós) aprendeu a TROCAR. Trocamos tudo.

Se o celular quebra, a gente troca.
Se a TV quebra, a gente troca.
Se a geladeira quebra, a gente troca.
Se o namoro não é mais legal, nós trocamos.
Se o casamento está passando por uma fase ruim, a gente também troca, e por ai vai. 

Não investimos mais, apenas trocamos, e fazemos isso por que aprendemos desde cedo a trocar e não a cuidar. O tal "TER e não SER". 

Eu ainda acho que faltou Papai Noel. Faltou acreditar, faltou esperar pelo dia de Natal para ganhar uma bola. Faltou e ainda falta.

Hoje, fazemos "carnes e carnes" para comprar o que não precisamos e nem iremos usar, para satisfazer uma vontade que foi criada e despertada na infância; o da troca. 

"Seja bonzinho na escola e a mamãe de ta um celular novo". 

"Se você passar de ano, te darei um Tablet". 

"Meu filhinho não gosta da professora? Ok, vou pedir para trocá-la".

É assim que tem funcionado...

E funciona até que o adulto não se encontre em mais nada, e não encontre mais a moeda de troca.

O tal "TER e não SER".

"Quanto mais eu TIVER, menos eu SEREI." É assim que deveria ser lido.

O correto deveria ser: "Quanto mais eu FOR, mais eu TEREI..."

Abraços!

 Sandra Milate
Revisão de Texto: Volfrâmio Almeida

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