sexta-feira, 3 de junho de 2016

É tudo questão de educação

Estes dias, precisei usar o transporte público (metrô) por conta de um projeto em que eu estava envolvida.

Usei por 18 dias nos horários de maior movimento, mais eu diria que são os horários de maior falta de educação e preocupação com o próximo, pois movimento e fluxo de pessoas existe o dia todo em São Paulo.

Todas as manhas antes de entrar, eu me “entregava” a Deus, e pedia apenas um espaço para caber o meu corpo inteiro dentro daquele vagão. Às vezes aguardava pelo 8 º ou 9º trem até conseguir colocar os meus dois pés no mesmo chão, mas não adiantava muito aguardar, pois sempre seguia toda torta e apertada para o meu destino. 

Enquanto seguia, pensava em todas aquelas pessoas que precisam usar o metro todos os dias, durante todo o ano e passam por aquilo sempre, sem nenhuma perspectiva de melhora.

Será por isto seus semblantes tristes e raivosos logo cedo?

Não pude deixar de perceber, que o que se forma na porta dos vagões é absurdo; uma barreira humana, quase que intransponível. Quando se consegue por algum milagre passar por ela, vem o “empurra-empurra”. Se você precisar tirar um dos pés do chão, prepare-se para ir com ele suspenso até o seu destino, pois o espaço já foi ocupado por um outro pé. 

Chegar amassado ou descabelado passa ser o menor dos problemas, pois o mais importante é chegar.

Às vezes e não poucas as vezes, havia sim espaço na outra porta e nos corredores, mas ainda assim não era possível entrar; isto porque as pessoas não se preocupam com o próximo.

Ora! Todos nós estamos ali pelo mesmo motivo, e ainda que fossem diferentes os motivos, o transporte será o mesmo.

Muitas vezes bastaria um passo para trás ou para o lado, para caber mais um par de pés. Se todos seguissem esse mesmo princípio, caberiam vários outros pares. Assim, todos nós poderíamos seguir, de forma menos desconfortável, para os nossos destinos.

Mas ao invés disto, o que vemos é um bando de pessoas raivosas logo cedo, desejando que o outro se perca, se ferre e que espere o outro trem, pouco se importando com as necessidades do próximo, e deixando brotar o seu ódio interno por tudo aquilo.

Iniciar a semana com os ânimos já assim à flor da pele e quase sem controle, imagine como será que esta semana irá terminar... 

Qual o nível de stress que esta pessoa passa?
Que tipo de alegria sente?

Que tipo de prazer esta pessoa pode sentir, ao ver a porta do vagão se fechar e ficar do lado de fora aquela pessoa que ele se opôs à entrada, quando se fez pedra na porta do trem?

Como será o dia desta pessoa que lesou o próximo?
E a manhã seguinte como será?
   
Se por um lado precisamos e merecemos um transporte com mais qualidade, (pois o valor da passagem não é baixo, e não estou tirando aqui a responsabilidade do governo quando nos oferece este tipo de transporte), por outro precisamos entender que a educação (e somente a educação) poderá mudar este quadro lamentável.

Educação, sim! 

As pessoas se empurram e quase que se “gladiam” para entrarem em um trem mesmo quando este não está muito cheio. Elas já estão tão habituadas a empurrarem, xingarem e se estressarem logo de manhã, que qualquer coisa diferente disto é estranho.

Enquanto minha única preocupação era entrar no trem e chegar ao meu destino dentro do meu horário, para outros muitos, era apenas empurrar para sentar-se, e fingirem-se de mortas e com a sensação de “Eu consegui! Estou sentado!’’

Percebem o nível de satisfação e educação destas pessoas?

“Se eu estiver bem, pouco me importa os outros.”
 “Se eu entrar no trem que se danem os que não entraram.”

Lamentável?
Muito!

Lamentável é saber que estas posturas se mantem em todos os sentidos da vida; furar fila, não chegar no horário, não pedir desculpas, não se importar com o outro em momento algum...
  
Eu terminei meu projeto e não preciso, por enquanto, enfrentar esta realidade, mas por quanto tempo?
  
Até quando?
E quando eu voltar, estará pior?

Sim, a tendência é piorar (e não estou sendo pessimista), mas uma coisa é certa: não adianta reclamar do governo, do estado e dos políticos, se não fizermos a nossa “lição de casa”.

Queimar ônibus em protesto ou “se matar” na linha do trem, não mudará as coisas.

Experimente ceder, dar e pedir licença, dar “bom dia” e responder ao que lhe foi dado.

Pratique o respeito.
Pratique a educação.

Dê um passo para o lado, para trás ou para frente, e você verá que isto (e apenas isto) é capaz de mudar muita coisa no seu dia a dia, e não apenas no transporte, mas na vida.

A educação cabe em qualquer lugar, e caberá onde nada mais couber.

E como diz Marcelo D2: “Então vem, chega devagar no miudinho, chega devagar no sapatinho”.

Boa Sorte!

Sandra Bhering
Revisão de texto: Volfrâmio Almeida


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