segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Entender para Atender


Parece simples, mas é, acreditem.

O problema, é que quando ocupamos o lado de lá do atendimento e deixamos de ser o cliente, esquecemos por alguma razão o que estamos de fato fazendo ali. Perdemos a sensibilidade.

Mais do que sabido, hoje o atendimento de qualquer grande, média ou pequena empresa, está concentrado em seus canais de telefone e e-mail, e por estes canais "impessoais" é que uma boa parte ou todo o atendimento acontece.

No geral, além de atender a necessidade do cliente (nem sempre atendida), o colaborador precisa ainda oferecer alguma coisa (venda), e me parece que é aí que as coisas se perdem - ou também se perdem.

Enquanto o atendimento acontece, a voz tem um tom quase sempre de "ok, eu entendo", mas quando chega o momento de se vender alguma coisa... Ah! O tom muda. Torna-se mais vibrante, com muito mais entusiasmo e vontade. Isto porque é preciso convencer o cliente a comprar. 

Mas antes, não era preciso encantá-lo? 

Atendê-lo e Entendê-lo?

O tom de entusiasmo e satisfação, não deveria ser percebido e impresso à conversa logo no inicio? 

Sorriso na Voz.

Sempre.

O atendimento à necessidade do cliente, não deveria ser entendido como prioridade, e a venda de qualquer produto ou serviço, como uma consequência? E que além de consequência passaria a ser um ato contínuo, e até percebido pelo cliente como serviço ou produto que agrega?

Porque não é assim que acontece? - Ou acontece?

Quando em treinamento, digo aos treinandos "entender para atender", me refiro à tudo, e principalmente à forma como o cliente se expressa. Entender o que ele fala, é seguramente o melhor caminho para atendê-lo, mas além disto, existem outros fatores como a "tal" empatia, o tempo, o canal, a urgência...

Nem sempre ligamos para o atendimento de uma empresa em nossas casas. Às vezes e na maioria delas, estamos em trânsito ou no trânsito, com tempo muito curto para longas conversas.

Estes dias, ligou para o meu telefone fixo, uma pessoa que representava uma empresa (não sei o nome da empresa. Perguntei por duas vezes e ainda assim não consegui entender). Pois bem, ela começou a falar, falar e falar. Estava vendendo um serviço de telefonia com PABX, vários ramais, ligações DDI, e vários outros benefícios.
Durante os quase 5 minutos em que ela falou sem respirar, eu queria muito ter dito que não precisava daquele serviço, mas não tive como. Precisei esperar ela "ler todo o script" que a empresa ofereceu, e só depois é que pude dizer que não precisava de nada daquilo que foi oferecido.

Quando enfim "perdeu o fôlego", perguntei se ela sabia das minhas necessidades para aquele serviço, se ela sabia o tamanho da minha empresa e se eu tinha mesmo uma empresa, e ela me pergunta: "A Sra. não tem um CNPJ?” - Bem, eu não. Mas minha empresa sim, tem um CNPJ.

Percebem? 

Não existe um entendimento e neste caso não haverá atendimento. 

Obviamente sei que estas empresas compram mail list, e os poucos números ou e-mails válidos, são usados na exaustão. Mas ainda assim perguntei.
No geral, se tem uma meta de vendas e ligações, e na ânsia de conseguir seus resultados (porque são cobrados), saem ligando para todo mundo. 

Resultado? 

Nenhum. 

E o que é ainda pior: a insatisfação de ambos (empresa e o suposto cliente).
Não acredito que apenas treinamento resolva (pois o treinamento faz parte do entendimento total da empresa), mas acredito sim que o que poderia ajudar no entendimento para o atendimento, é sensibilização.

Atender como gostaria de ser atendido parece batido, não é? Mas acreditem, funciona.
Em meus treinamentos, uso muito o exemplo de "como você atenderia sua mãe?",  e as respostas são várias, mas unânimes; com muito entendimento e empatia - por ser a mãe, claro. 

Quando faço a pergunta: "Como você atenderia a mãe do seu colega aqui do lado?", ou ainda "Como você gostaria que ele atendesse a sua mãe?", as respostas são as mais variadas possíveis e mentirosas, é claro, mas naquele momento talvez eu atinja um certo grau de sensibilidade, e de responsabilidade com o atendimento, mas que será desfeito e até esquecido quando ele estiver no dia a dia, trabalhando 6 horas por dia e correndo atrás de bater metas.

Deveríamos escrever uma frase e fixar no computador ou na estação de trabalho para se ler antes de um atendimento. Algo tipo: "Ei, sua mãe está na linha".

O supervisor, aquele que tem a "super visão", tem entre suas funções, uma que eu arrisco dizer ser das mais importantes: manter sua equipe consciente do seu papel, da importância do atendimento e da valorização do cliente.

Afinal, o cliente tem sempre razão - ou quase sempre, e quando ele deixar de nos procurar, seja por produto ou atendimento, não haverá mais a necessidade de ter equipes e supervisores, pois não haverá mais atendimento.

Pensem nisso.

Abraços,
Sandra Milate
Revisão de Texto: Volfrâmio Almeida




sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Trocas: SER ou TER?







Estou convencida que algumas etapas da vida não podem ser puladas ou ignoradas. Na infância somos forjados (formados), e nada que aconteça depois do "trauma" poderá mudar a percepção do fato e suas consequências para toda a vida.

Hoje em dia as crianças não brincam mais, (exceto com vídeo games), não têm amigos reais, (mas vários seguidores em redes sociais), não sujam as mãos com barro, não correm nas ruas, não sonham, não acreditam em mais nada, e acho isto muito triste.

É claro que algumas coisas eles não podem mais fazer por conta da violência nas ruas. Não dá mais para brincar de "mãe da mula", "queima", ou "pega-pega", pois fomos obrigados a reinventar a forma de educar nossas crianças, e para substituir algumas coisas, acabamos por confiná-los dentro de nossas casas e trocamos "valores": ter e não ser.

Recentemente, assisti à uma reportagem sobre o uso do celular, e em uma das famílias, as pessoas se comunicavam através de um mensageiro instantâneo, mesmo estando todos no mesmo cômodo da casa, e a única frase trocada entre eles era: "Recebeu ai? Já te mandei".

Okay, entendo a modernidade, e a necessidade de evoluirmos, mas precisamos ter o bom senso de medirmos as coisas e ajustar os valores.

Às vezes aqui em casa, acontece de estar-mos todos mexendo nos celulares quase que ao mesmo tempo, mas nada que nos impeça de conversar, rir e falar besteiras - e como falamos besteiras. 

Talvez aqui seja diferente, pois os meus filhos cresceram sem esta "modernidade" toda. Acreditavam em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, e não acho que isso tenha sido ruim, muito pelo contrário; eles FORAM e não TIVERAM.

Ouço às vezes as pessoas questionarem estes símbolos da infância como sendo prejudiciais ao ser humano, como se acreditar em Papai Noel, nos fizessem dementes, alienados, desligados ou sonhadores. 

Quem dera mais sonhadores... Quem dera. 

Mas qual a nossa realidade hoje? Crianças de 9 anos de idade falando de seus direitos com os pais, e esquecendo de seus deveres, dizendo que vão denunciar os pais porque querem ver TV até mais tarde e os pais, com razão, não deixam. 

Fantasioso? 

Ouvi de uma mãe que a filha de 9 anos pegou o telefone após a mãe mandá-la ir para a cama, e queria ligar para a policia. Acreditem.
Faltou Papai Noel  e sobrou "sessão da tarde".

"Adolescentes" que aos 11 anos, já encontraram o amor da vida inteira e às vezes, engravidam. Que dizem aos pais que são donas da própria vida, mas carregam uma outra.

Lamentável.

Estou de fato convencida que essas atitudes fora de hora, sem medida, e sem bom senso, forjam o nosso adulto de hoje. Mas não "forjam um bom aço".

Quem ainda manda para o conserto uma TV, um ferro de passar, uma geladeira ou um celular? Acredito que poucos, até porque não encontramos mais profissionais que realizam este tipo de trabalho. Por que não? Porque o mercado (nós) aprendeu a TROCAR. Trocamos tudo.

Se o celular quebra, a gente troca.
Se a TV quebra, a gente troca.
Se a geladeira quebra, a gente troca.
Se o namoro não é mais legal, nós trocamos.
Se o casamento está passando por uma fase ruim, a gente também troca, e por ai vai. 

Não investimos mais, apenas trocamos, e fazemos isso por que aprendemos desde cedo a trocar e não a cuidar. O tal "TER e não SER". 

Eu ainda acho que faltou Papai Noel. Faltou acreditar, faltou esperar pelo dia de Natal para ganhar uma bola. Faltou e ainda falta.

Hoje, fazemos "carnes e carnes" para comprar o que não precisamos e nem iremos usar, para satisfazer uma vontade que foi criada e despertada na infância; o da troca. 

"Seja bonzinho na escola e a mamãe de ta um celular novo". 

"Se você passar de ano, te darei um Tablet". 

"Meu filhinho não gosta da professora? Ok, vou pedir para trocá-la".

É assim que tem funcionado...

E funciona até que o adulto não se encontre em mais nada, e não encontre mais a moeda de troca.

O tal "TER e não SER".

"Quanto mais eu TIVER, menos eu SEREI." É assim que deveria ser lido.

O correto deveria ser: "Quanto mais eu FOR, mais eu TEREI..."

Abraços!

 Sandra Milate
Revisão de Texto: Volfrâmio Almeida

Porque tudo tem um fim...

“O vento que venta aqui, é o mesmo que venta lá.” Baden Powell / Paulo Cesar Pinheiro   Algum tempo venho pensando em escrever para es...