quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Demônios do meio-dia Andrew Solomon




Acabo de ler este livro MARAVILHOSO que fala sobre a depressão e suas variáveis, tratamentos, terapias e farmacologia.

Ele autor (que tem depressão) , conseguiu falar sobre o assunto, experimentando todo tipo de tratamento que lhe era oferecido, até o Tratamento de Eletro Choque (TEC) ele fez, tudo para poder se livrar do vazio e dor que sentia quando a crise era severa, sim crises, porque depressão não tem cura, o máximo que conseguimos é diminuir as crises e passa-las para leves.

Na metade do ano de 2015 eu tive uma depressão severa, mas eu não sabia o que era aquilo que eu estava sentindo ou não sentindo.

Aquela dor na alma, aquele vazio, a vontade incontrolável de chorar, a falta de apetite, a falta de vontade de viver, o sono e as vezes a falta dele, eu não sabia o que era aquilo.

Eu passava os dias deitada no sofá revendo uma serie na Netflix que falava da luta dos Vikings, história real, bastante violenta, mas me que me dava um certo alento, pensava: se eles podem ser fortes porque eu não consigo sair deste sofá? Porque não consigo encontrar paz e alegria em nada a minha volta?

Sou casada, mãe de um casal e avó de dois meninos, na época eu só tinha o Diogo meu neto e por mais amor que eu sentia e sinto por todos eles, era insuportável ficar com eles, eu não queria ninguém perto de mim ou me perguntando como eu estava me sentindo.

Estou morrendo pensava eu, porém não respondia.

Eu não sentia fome, neste período que deve ter levado 6 meses em perdi 12kg, todas as vezes que era obrigada a comer eu chorava, era uma garfada de comida e varias lagrimas que escapavam dos meus olhos sem que eu pudesse conte-las.

E eu não sabia explicar.

Meu marido, parceiro de toda uma vida, também não entendia o que estava acontecendo comigo, não sabia o que fazer, para onde ir, quem procurar para me ajudar, foi também para ele um momento muito difícil, que hoje entendemos e aceitamos bem.

Em um dado momento durante a crise consegui ir ao médico, fui a um clinico geral, eu queria saber o que era aquilo, me consultei com o Dr. Lineu, na verdade aquele primeiro momento não foi uma consulta porque eu não conseguia falar, apenas chorar e me lembro que ele se levantou pegou algumas toalhas de papel e me deu e disse quando puder falamos, enquanto isto ele foi preparando algumas guias para um hemograma completo.

Quando consegui para de chorar, o que levou um certo tempo e eu já estava mais que constrangida, ele me perguntou se eu havia perdido alguém, se estava com algum problema de saúde grave em casa, ou desempregada, sem dinheiro.

Disse-lhe que não, que por pior que pudesse parecer nem dívidas eu tinha naquele momento, ele então me examinou, coração, pressão, pulmão e me receitou Fluoxetina, na verdade um genérico do Prozac e ainda lembro que ele me disse que na água do mundo todo deveria conter Fluoxetina.

Isto é depressão, disse ele.

Me pediu para tomar 2 comprimidos por dia sem parar por 60 dias até que meus exames ficassem prontos e eu pudesse voltar ao consultório.

Nos 5 primeiros dias de tratamento eu já me sentia melhor e capaz de analisar o start para aquela depressão tão severa, e descobri que estava relacionada a pressão do meu trabalho, na verdade com uma injustiça cometida contra mim.

Quando eu pensava no trabalho meu coração parecia que ia sair pela boca, sentia uma angustia quase pânico, mas precisei  voltar a trabalhar, me lembro que nos primeiros dias eu parava meu carro no estacionamento e não conseguia sair dele, abria e fechava a porta várias e várias vezes até finalmente conseguir sair, ia direto para o banheiro e chorava muito e tentava me controlar para não atrapalhar o meu desempenho que já estava todo comprometido, mesmo assim eu entrava em sala e dava minha aula  de 6 horas e ao longo do dia eu pensava : se mantenha firme só por hoje, meio que os AA s.

Quando entrava no carro para voltar para casa sentia que tinha vencido mais um dia e que amanhã eu saberia como agir.

Voltei ao Dr Lineu com os resultados dos exames, ele ficou feliz em descobrir que eu tinha hipotireoidismo, o que para ele,  justificava a minha depressão e com isto suspendeu a Fluoxetina, porem eu ainda precisava dela, sem o remédio eu acordava assustada todos os dias e me perdia por algumas horas até me recompor.

Precisei, já que ele não me prescreveu mais a droga, arrumar um jeito de conseguir e foi o que fiz, paguei consultas, comprei receitas ( infelizmente o nosso País ainda tem a depressão como frescura) e este remédio não vicia e nem causa a morte, posso tomar os 30 comprimidos de uma vez que o máximo que terei será dor de cabeça e enjoo ,não sei então porque tanta “ frescura” em liberar a venda deste remédio que ajuda muitas pessoas a se manterem firmes e dentro do controle de suas vidas.

Meu marido conseguiu com um amigo que tem uma esposa bipolar e depressiva, algumas cartelas do Fluoxetina, além disto passei recentemente no médico e ele prescreveu o remédio novamente.

Hoje não preciso tomar todos os dias, tomo apenas quando estou muito ansiosa e pressinto que a depressão vem chegando.

Depois que li o livro Demônios do meio dia, tudo passou a fazer muito sentido e já não me sinto tão fora do contexto de todos.

Sei que não existe cura, sei também que é mais que possível viver e conviver com a depressão, basta que minha família saiba para que eu possa passar por ela sem tentar esconder ou fingir ser o que naquele momento não sou.

Me isolar, dormir até não poder mais, não comer, a dor e o choro, nós sabemos agora que tudo isto vai passar, pode levar um tempo que difere de uma crise para a outra, mas vai passar.

O autor do livro Andrew Solomon, diz que nos tornamos pessoas melhores depois das crises, que queremos aproveitar o máximo o tempo que perdemos e que durante a crise o melhor que temos a fazer, além de tomar nossos remédios, é entender , esperar e lembrar que está também vai passar.

Enquanto nossa medicina não encontra a cura para esta doença mental, vamos vivendo um dia por vez, evitando o que nos estressa (sempre que possível) e quando não for possível, pensar que nem sempre será assim.

Se você está neste momento passando por uma crise, não se machuque e nem tente acelerar o processo de “cura”, tome seus remédios, faça exercícios para que você possa se sentir dono de alguma coisa, e acredite caminhar tem me feito muito bem.

Parabéns mais uma vez ao autor do livro Demônios do Meio-dia, tenho certeza que sua coragem em se expor ajudou e ajudará muita gente que tem depressão, mas tem medo de sair do “armário”, medo do que vão pensar ou dizer sobre elas, a entender a doença e aceita-la sem achar que por tê-la é o pior do mundo ou o não escolhido para ser feliz.

Abraços,
Sandra Bhering Milate


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