Estes dias, precisei usar o transporte público (metrô) por
conta de um projeto em que eu estava envolvida.
Usei por 18 dias nos horários
de maior movimento, mais eu diria que são os horários de maior falta de
educação e preocupação com o próximo, pois movimento e fluxo de pessoas existe
o dia todo em São Paulo.
Todas as manhas antes de entrar, eu me “entregava” a Deus, e pedia
apenas um espaço para caber o meu corpo inteiro dentro daquele vagão. Às vezes
aguardava pelo 8 º ou 9º trem até conseguir colocar os meus dois pés no mesmo
chão, mas não adiantava muito aguardar, pois sempre seguia toda torta e
apertada para o meu destino.
Enquanto seguia, pensava em todas aquelas pessoas que precisam usar o
metro todos os dias, durante todo o ano e passam por aquilo sempre, sem nenhuma
perspectiva de melhora.
Será por isto seus semblantes tristes e raivosos logo cedo?
Não pude deixar de perceber, que o que se forma na porta dos vagões é absurdo;
uma barreira humana, quase que intransponível. Quando se consegue por algum
milagre passar por ela, vem o “empurra-empurra”. Se você precisar tirar um dos
pés do chão, prepare-se para ir com ele suspenso até o seu destino, pois o
espaço já foi ocupado por um outro pé.
Chegar amassado ou descabelado passa ser o menor dos problemas, pois o
mais importante é chegar.
Às vezes e não poucas as vezes, havia sim espaço na outra porta e nos
corredores, mas ainda assim não era possível entrar; isto porque as pessoas não
se preocupam com o próximo.
Ora! Todos nós estamos ali pelo mesmo motivo, e ainda que fossem
diferentes os motivos, o transporte será o mesmo.
Muitas vezes bastaria um passo para trás ou para o lado, para caber mais
um par de pés. Se todos seguissem esse mesmo princípio, caberiam vários outros
pares. Assim, todos nós poderíamos seguir, de forma menos desconfortável, para
os nossos destinos.
Mas ao invés disto, o que vemos é um bando de pessoas raivosas logo
cedo, desejando que o outro se perca, se ferre e que espere o outro trem, pouco
se importando com as necessidades do próximo, e deixando brotar o seu ódio
interno por tudo aquilo.
Iniciar a semana com os ânimos já
assim à flor da pele e quase sem controle, imagine como será que esta semana
irá terminar...
Qual o nível de stress que esta pessoa passa?
Que tipo de alegria sente?
Que tipo de prazer esta pessoa pode sentir, ao ver a porta do vagão se
fechar e ficar do lado de fora aquela pessoa que ele se opôs à entrada, quando
se fez pedra na porta do trem?
Como será o dia desta pessoa que lesou o próximo?
E a manhã seguinte como será?
Se por um lado precisamos e merecemos
um transporte com mais qualidade, (pois o valor da passagem não é baixo, e não
estou tirando aqui a responsabilidade do governo quando nos oferece este tipo
de transporte), por outro precisamos entender que a educação (e somente a
educação) poderá mudar este quadro lamentável.
Educação, sim!
As pessoas se empurram e quase que se “gladiam” para entrarem em um trem
mesmo quando este não está muito cheio. Elas já estão tão habituadas a
empurrarem, xingarem e se estressarem logo de manhã, que qualquer coisa
diferente disto é estranho.
Enquanto minha única preocupação era entrar no trem e chegar ao meu
destino dentro do meu horário, para outros muitos, era apenas empurrar para
sentar-se, e fingirem-se de mortas e com a sensação de “Eu consegui! Estou
sentado!’’
Percebem o nível de satisfação e educação destas pessoas?
“Se eu estiver bem, pouco me importa os outros.”
“Se eu entrar no trem que se danem os que não entraram.”
Lamentável?
Muito!
Lamentável é saber que estas posturas se mantem em todos os sentidos da vida;
furar fila, não chegar no horário, não pedir desculpas, não se importar com o
outro em momento algum...
Eu terminei meu projeto e não preciso, por enquanto, enfrentar esta
realidade, mas por quanto tempo?
Até quando?
E quando eu voltar, estará pior?
Sim, a tendência é piorar (e não estou sendo pessimista), mas uma coisa
é certa: não adianta reclamar do governo, do estado e dos políticos, se não fizermos
a nossa “lição de casa”.
Queimar ônibus em protesto ou “se matar” na linha do trem, não mudará as
coisas.
Experimente ceder, dar e pedir licença, dar “bom dia” e responder ao que
lhe foi dado.
Pratique o respeito.
Pratique a educação.
Dê um passo para o lado, para trás ou para frente, e você verá que isto (e
apenas isto) é capaz de mudar muita coisa no seu dia a dia, e não apenas no
transporte, mas na vida.
A educação cabe em qualquer lugar, e caberá onde nada mais couber.
E como diz Marcelo D2: “Então vem, chega devagar no miudinho, chega
devagar no sapatinho”.
Boa Sorte!
Sandra Bhering
Revisão de texto: Volfrâmio Almeida